Se você leu o texto anterior "Sobre Deus", ao chegar no meio desse texto vai parecer que está tendo um déjà vu. Mas a verdade é que esses dois textos se complementam. Eles possuem pontos de partida totalmente diferentes, mas acabam convergindo em questões semelhantes.
Escrito em 2009
A minha geração de historiadores não é mais formada por aqueles pesquisadores trancados em arquivos em busca de respostas para certas questões factuais e que escreviam para um pequeno círculo de especialistas. Essas criaturas ainda existem e essa é uma imagem ainda muito presente nas representações das pessoas, mas é um estereótipo que não se sustenta mais dentro do nosso próprio campo. Por outro lado, a minha geração não é aquela que irá fazer a revolução. Ela não está comprometida com algum projeto político específico. Ela não tem respostas, não tem certezas. A verdade absoluta não existe. As verdades relativas estão fragmentadas. É uma geração que questiona, que se questiona. Se eu pudesse defini-la, diria que é uma geração angustiada.
Angustiada por um mar de livros que precisa ler e por saber que nunca dará conta de tudo. Dividida entre a vida acadêmica e a vida social. É uma geração cheia de dúvidas e incertezas. Buscamos nosso lugar na sociedade como historiadores, como professores, como seres humanos. Estamos divididos entre a teoria e a prática. Quanto mais estudamos, mais analisamos, mais refletimos, mais nossos valores se fragmentam. Passamos a enxergar o mundo com outros olhos.
Eu carrego uma angústia de saber que por mais que eu saiba, não saberei tudo e mesmo se soubesse, isso não seria o suficiente para modificar nada. Sinto tanta dificuldade em mudar a mim mesma, quanto mais o mundo em que vivo. Talvez seja por isso que eu ando tão tranquila e tão inquieta. Sinto que sou tanto e ao mesmo tempo não sou nada. Sinto tantas coisas e ao mesmo tempo estou anestesiada.
É por isso que se você vier me perguntar qual é o meu problema, eu te direi que não é nada. Mas, na verdade, o meu "nada" é sinônimo de TUDO. Todas essas questões somadas a tantas outras questões individuais e pessoais que eu também não entendo. Se não é possível uma resposta definitiva e objetiva em se tratando de um conhecimento acadêmico, meus sentimentos quem é que vai entender? Eu diria que estou passando por uma fase de crise existencial se isso não soasse tão dramático e se eu acreditasse que é apenas uma fase.