terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sinto muito

          Se de alguma coisa adiantasse dizer, eu diria. Diria tudo e repetiria quantas vezes fosse possível ou necessário, sem temer o ridículo ou qualquer outro adjetivo. Mas, nesse caso, palavras são o que me afasta e, por isso, elas me faltam quando preciso me aproximar.
          Se meus olhos pudessem dizer, diriam. E dizem. Por isso, eles se fecham: para que meus sonhos possam ser povoados por você. Na manhã seguinte,  não quero abri-los. O sol está brilhando forte demais lá fora. E aqui dentro também.
          Se de alguma coisa adiantasse sentir, eu sentiria. Sentiria tudo, o tempo todo, sem por um minuto me anestesiar. Não adianta. E eu sinto. Sinto muito, mas não consigo deixar de sentir. E se conseguisse, não deixaria. É o que me resta, o que ainda pulsa dentro de mim.
          Um dia, os sentimentos se manifestam: na palavra, no corpo, na alma. E, nesse dia, de nada adianta dizer, repetir, olhar. É o que me afasta, quando tudo o que eu queria era me ver no seu olhar.