terça-feira, 29 de junho de 2010

Quando os sonhos invadem a realidade

Escrito em 2009

Nunca acreditei em Papai Noel,
nem no coelhinho da páscoa.
Nunca tive medo do homem do saco.
Jamais esperei pelo príncipe encantado.

Até que um dia,
os sonhos resolveram invadir minha realidade,
subverter a minha ordem interior,
desmentir todas as minhas verdades.

Foi quando o bom velhinho
resolveu aparecer em plena páscoa,
trazendo um príncipe encantado
de presente pra me dar.
Mas eu me esqueci de me comportar direitinho.
Então, o homem do saco apareceu
e levou o príncipe de mim.

Depois desse dia,
nenhuma outra criatura fantástica
me apareceu.
E todos dizem que eu preciso
voltar para a realidade.
Mas como deixar de acreditar em sonho
depois de tê-lo tocado,
depois de tê-lo vivido?

E foi assim que eu me tornei uma sonhadora.
Irremediável.

sábado, 26 de junho de 2010

2 a.m.

Escrito em 01/11/2009

São duas horas da madrugada errada.
Meus soníferos não fazem mais efeito,
Me confundem ainda mais,
Me alienam de mim mesma,
Aprofundam esse meu vazio,
Me esvaziam de minhas contradições,
Me anestesiam pela metade
E só me resta essa vontade
De me perder só mais um pouco.

Minha carência não sei de onde vem.
Não quero perder o que já não me satisfaz.
Não sei em que parte da minha estrada
As coisas foram se complicar tanto assim.
Não era atalho, nem desvio, nem prato fundo, nem rio raso.
É sal que hoje constitui as minhas lágrimas,
É marca que ficou e me acompanha
Como tudo aquilo que me toca a alma.

Eu só quero fechar os olhos e não me enxergar assim:
Tão ciumenta e infantil.
Quero apagar essas palavras que me traem
E mostram o tamanho do meu egoísmo
E vaidade por aquilo que não me cabe mais.
Eu só espero fechar esse caderno e que amanhã
O sol possa voltar a brilhar pra mim mais um pouco.
Que meu problema seja o sono ou apenas mais uma tpm
Pra que eu possa me enganar só um pouco mais.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Acordados do sonho medievo


Escrito em 12/08/2009

E a sua imagem
já começa a fugir da minha memória.
Também pudera...
depois de tanto tempo juntos,
o fim era inevitável.
Também pudera...
depois de tanto tempo separados,
o fim era inevitável.
E o que restou?
Cartas guardadas
no fundo de uma memória fragmentada.
Pedaços seus
em pedaços meus,
submersos na imensidão de sonhos perdidos,
acordados pela realidade,
que às vezes grita tão alto
que meus soníferos já não fazem mais efeito.
É preciso uma dose mais alta
pra me anestesiar.

Suas verdades não te enganam mais.
Minhas chagas da madrugada já não te comovem
(nem te convencem).
O príncipe perdeu a espada que nos protegia.
As promessas foram manchadas pelas lágrimas que caem do céu
(ou de nós).
A princesa perdeu a ingenuidade,
guardou a fragilidade que tanto o encantava
debaixo de sete chaves.
Ambos perderam os cachos
que os entrelaçavam e os confundiam em um só coração,
gravado não na ostentação do ouro,
mas na fortaleza e na simplicidade do aço
que hoje se corrói.
O castelo não era de areia,
mesmo assim foi derrubado.

Na imagem refletida,
rostos mais bonitos,
corpos mais padronizados,
opiniões mais previsíveis,
atitudes mais hedonistas.
No espelho, não nos reconhecemos,
mas o que importa é que somos mais reconhecidos.
Estamos prontos para enfrentar o mundo,
livres para encontrar nosso lugar ao sol,
às custas de nos perdermos um do outro.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sem-hora inspiração

Escrito em novembro de 2008

Em teus olhos,
busco respostas
para as minhas dúvidas 
e não as encontro.
Em teus beijos,
me afogo, me esqueço
e não quero mais me encontrar.

De tuas verdades,
duvido.
Em tuas mentiras,
acredito.
Por teus defeitos,
me apaixono.
De tuas virtudes,
prefiro me esquecer.

Te subverto.
Te ressignifico.
Já não és mais o mesmo.
Já não sou mais a mesma.

Prefiro não ser eu
e ser tua.
Prefiro que não sejas tu
e sejas meu.
Só por essa noite.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pré-texto

Escrito em outubro de 2008

Inventar uma desculpa só pra te ouvir
E ouvir qualquer pretexto pra me encontrar.
Encontrar uma estratégia pra poder te ver
E te ver como um motivo pra me apaixonar.
Me apaixonar por esse seu jeitinho de menino.
De menino que tem muito a me ensinar.
Me ensinar um novo jeito de viver o amor.
O amor que eu preciso pra me (re)inventar.

terça-feira, 22 de junho de 2010

E tudo isso tem que caber dentro do meu peito

Escrito em 28/08/2008

Cansada desse mundo que não me entende.
Exausta desse mundo que eu não entendo.
E tudo isso tem que caber dentro do meu peito,
Dentro desse coração confuso e adolescente,
Dentro desses pensamentos que insistem
Em racionalizar o que o corpo sente.

Quero apenas um sonho tranquilo.
Não posso me entregar tanto assim.
Paciência para esperar que o tempo passe,
Esperança para que ele traga o que me prometeu.
Não há promessas.
Não posso me enganar.
É tempo de descortinar as dúvidas.
"Já é tempo de cair o véu."

Mas sinto medo.
No espelho,
Uma imagem que não reconheço.
Preciso esquecer...
Preciso recordar...
Cada dia é uma nova interrogação.

O passado me pesa nos ombros,
O presente me traz um brilho no olhar,
O futuro... eu não sei.

Só por hoje, quero mergulhar em minhas lágrimas infantis.
Só por hoje, quero me esquecer.
Mas espero que o mundo lá fora não me esqueça.
Ainda não desisti dos meus sonhos de menina.
Ainda não abri mão dos meus desejos de mulher.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

...

Escrito em julho de 2008

Suas fotos não estão mais na parede,
Mas ainda as ouço a cantar,
Sufocadas em meio a tantas outras lembranças suas,
Guardadas em um lugar que eu preciso esquecer.
Suas cartas, seus cachos,
Seus olhares, suas pegadas,
Suas digitais ainda impressas em meus objetos pessoais,
Suas risadas de cada detalhe.

Essa caderneta...
Ainda nem havia notado...
É sua
E você nem sentiu falta.
É de um tempo em que você fazia parte da minha história.
Agora eu só faço história.
Eu faço história?
Não faço, estudo.
Estudo cada lembrança,
Cada pensamento meu.

Tudo está igual
E está tão diferente.
Tudo aconteceu tão de repente.
Acho que o tempo passa mais rápido pra quem assiste
Do que pra quem atua.
Porque atuar é esforço, é lágrima, é riso.
Assistir também é participar,
Mas talvez nem assistido eu tenha.
Acho que meus olhos estavam fechados,
Minha mente conectada com algum canto
Recôndito de minhas imaginações.
E por falar em canto...
É... não adiantou tirar suas fotos da parede...

domingo, 20 de junho de 2010

O que eu quero

Escrito em 2007

Você descobre meus segredos,
Arrasta meus desejos,
Faz de mim o que quer,
Faz de mim o que eu quero.

Me preenche,
Me ilumina,
Me inspira,
Me fascina.

Me olha de um jeito,
Me pega de jeito.

Não sou nada sem você.
Não há caminhos que eu trace
Que não me levam a você.

sábado, 19 de junho de 2010

Queria saber dizer

Escrito em 16/03/2006

Queria saber dizer
Que as flores do meu jardim
Seriam murchas sem você.

Queria saber dizer
Que as minhas noites são frias,
Se eu não te tenho para me aquecer.

Queria saber dizer
Que meu coração chora,
Que minha boca implora
Por seus beijos doces
Que me fazem estremecer.

Queria saber dizer
Que agora escrevo
Pra tentar esquecer a saudade,
Esquecer essa vontade
De te querer e não te ter.

Queria saber dizer
Que vivem meus olhos, de enganos;
Que vive meu presente, de planos;
De sonhos onde só existe você.

Queria saber dizer
Que seu perfume ainda posso sentir,
Sua voz ainda posso ouvir,
Sua presença ainda posso pressentir.

Queria saber dizer
Que meu rosto não está molhado
Pela sua ausência.
Mas por uma vã insistência
Em querer saber dizer
Tudo o que sinto por você.

Queria saber dizer sem palavras,
Com emoções que viajassem por essas estradas
E chegassem até você.
Só então poderia entender
Que tudo o que sinto,
Ninguém é capaz de dizer.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Contro versos

Escrito em 2004

O vento balança as folhagens
Como você tocou meu coração.
Vendaval que aturde,
Pois se fosse brisa mansa,
Não teria tirado meus pés do chão.

Lágrimas inundam meus olhos,
Que só enxergam recordação.
Como a neblina que confude a paisagem,
Meus sentimentos se misturaram,
Não pude ver com exatidão.

Como a árvore que perde as folhas no outono,
Eu te perdi.
Perdi meu céu,
Perdi meu sono,
Engolido pela escuridão desta noite infinda,
Nessa solidão que ainda,
Toma conta do meu viver.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

In versos

Escrito em 2004

O amor em minhas mãos,
Joguei ao vento.
Ao relento,
Ficou meu coração.

Lágrimas
Chovem em meu rosto.
A saudade
É minha única emoção.

Lábios secos,
Corpo inerte,
Eu perdi minha razão.

Vida só,
Riso Falso,
Felicidade minha: doce ilusão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Memorial - Parte Final

Universidade         

          Eu via a faculdade de História e a mudança para Niterói como uma oportunidade para que eu pudesse me reinventar, já que não estava satisfeita com a imagem que as pessoas tinham de mim em Itaperuna de ser uma pessoa metida, quieta, tímida e que não fazia muitas coisas na vida além de estudar. Mas as coisas não foram tão fáceis como eu imaginava, eu acho que não consegui mudar muito a minha imagem no meu ambiente de estudo. Eu continuei a passar um pouco essa imagem e não consegui me integrar com a turma com a qual eu entrei.
          No primeiro período, muitas pessoas se mostraram decepcionadas com faculdade por não conseguirem ver uma continuidade entre a História aprendida na escola e a História que estávamos estudando na faculdade. Alguns desistiram do curso. Além disso, eu senti uma dificuldade no primeiro ano de faculdade por me sentir ainda imatura para um ambiente no qual todo mundo era tratado como adulto e no qual as pessoas já estavam muito preocupadas com suas vidas profissionais. Tive dificuldades também em saber como estudar, já que o método de estudo que eu havia criado para mim no Ensino Médio não servia mais. Havia um abismo entre a leitura de livros didáticos e as leituras de Karl Marx, Marc Bloch, entre outros. Eu ficava preocupada por não conseguir dar conta de absorver todos os detalhes do texto, tanto que meus fichamentos eram quase do mesmo tamanho dos textos. Tudo eu julgava ser importante. Além disso eu não conseguia me posicionar criticamente. Eu concordava com tudo o que diferentes autores diziam, já que tudo tinha uma coerência. Mas eu sabia que havia algo de errado nisso.
          A partir do terceiro período eu comecei a assimilar melhor certas coisas. Eu entendi que nunca vou dar conta de todos os conteúdos historiográficos e consegui me posicionar melhor criticamente. Ter feito duas disciplinas com a professora Martha nesse período foi fundamental para mim, pois foi no curso dela que tive contato com alguns textos como do Thompson, que deram respostas para muitos dos meus questionamentos e que me levaram a crer que eu realmente gostaria de trabalhar com cultura. Além disso, eu passei a me posicionar teoricamente, ao me identificar com determinadas leituras, principalmente do Thompson. Também fiz uma disciplina optativa chamada “Sociologia de Karl Marx”, que me ajudou a pensar e questionar muitos elementos teóricos. Foi no terceiro período também que a professora Fernanda, que havia sido minha professora de História do Brasil I, me ofereceu uma bolsa de iniciação científica. Embora eu houvesse entrado na faculdade pensando em me especializar em História Antiga para que isso depois fosse um caminho para mim na arqueologia, eu não havia gostado muito do curso de História Antiga e havia adorado o curso de História do Brasil. Eu aceitei a bolsa e foi aí que eu decidi a longo prazo o que fazer.
          Penso em trabalhar com História Indígena no Brasil Colonial, com a parte de cultura e, futuramente, trabalhar com Arqueologia Brasileira, mais especificamente com a temática indígena durante o período colonial. Quando a bolsa com a Fernanda terminou, ela me perguntou com o que eu gostaria de trabalhar e eu disse que era com história indígena. Então, ela me indicou para a professora Regina, que trabalha com essa temática. Ela já me conhecia por eu ter feito uma disciplina com ela e por ter pedido ajuda a ela para realizar meu projeto de Metec (Métodos e Técnicas de Pesquisa em História) sobre os tupinambás no século XVI. Ela me deu a bolsa e, atualmente, eu sou bolsista e orientanda dela.
          Eu não sei exatamente o porquê, mas atualmente estou desanimada com a faculdade e não tenho rendido tanto quanto antes. Estou me sentindo pressionada porque ela está chegando ao fim. Eu preciso fazer monografia, tem a bolsa de iniciação científica, tenho aulas de francês, faço estágio não remunerado uma vez por semana no laboratório de arqueologia do Museu Nacional, estou começando a fazer estágio uma vez por semana em uma escola, faço terapia individual e terapia de grupo. Aos sábados faço aulas de teatro, que é uma nova paixão que eu descobri há dois anos e meio atrás. Minha orientadora não está muito feliz comigo, ela não entende o que está acontecendo com a “a aluna excelente e responsável”, segundo suas próprias palavras, que ela teve. Ninguém entende, nem eu entendo.
          Ainda não sei se quero ser professora, não sei se vou conseguir entrar direto no mestrado porque ainda vou precisar estudar muito e fazer um projeto para entrar em uma outra área, com a qual eu ainda não tenho tanto contato. Discordo do sistema capitalista e ao mesmo tempo não faço nada para mudá-lo. Estou tão imersa no sistema quanto qualquer outra pessoa. Não sei como resistir e sobreviver dentro dele ao mesmo tempo, se é que isso é possível. Além de tudo isso, eu ainda preciso comer, dormir, me divertir e lidar com um turbilhão de coisas dentro de mim que me acompanham desde que eu nasci. Afinal ter febre causada por motivos emocionais aos três meses de idade é só pra quem nasceu às 9:35 da manhã do dia errado em “um ano que abalou o mundo”.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Memorial - Parte IV

Ensino Médio       

          O Caminhar era uma escola que ia até a Oitava série do Ensino Fundamental, hoje nono ano. Após terminar o Ensino Fundamental eu fui estudar no Sistema Educacional Único. O Único era uma escola que havia sido fundada muito recentemente, cerca de dois anos antes de eu ter começado a estudar lá. Antes havia na cidade um Colégio Exame, considerado um ótimo colégio, cujos alunos tinham um bom preparo para o vestibular. Mas, por motivos financeiros, o colégio veio a falência. Pouco depois, em 2003, uma das coordenadoras, resolver fundar um novo colégio: o Único.
          A escola funcionava em um local muito pequeno, no centro da cidade, no segundo andar de um centro comercial. Havia apenas seis salas. No turno da manhã, eram duas de primeiro ano, uma de 2º ano, uma de 3º ano e uma sala bem pequena de 8ª série. Havia também uma sala de vídeo, bastante mal equipada, contendo apenas uma televisão, um DVD e algumas cadeiras de plástico que não costumavam dar para todo mundo sentar. Havia, além disso, um hall de entrada, uma sala que era dividida entre secretaria e sala dos professores, uma sala da diretoria e uma cantina. Muitas vezes nós ficávamos em sala de aula durante o intervalo porque simplesmente não cabia todo mundo no espaço da cantina, corredor e hall de entrada. Não havia quadra de esportes, as aulas de Educação Física ocorriam em um clube: a AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) e não eram obrigatórias. Eu não fui a nenhuma aula de Educação Física no meu Ensino Médio, embora constem notas fictícias no meu histórico escolar. Os registros escritos oficiais nem sempre traduzem a realidade. Durante a noite funcionava o pré-vestibular. Não havia biblioteca, apenas uma estante com alguns livros na sala da diretora. Foi com essa infra-estrutura que o Único conseguiu se tornar o melhor colégio de Itaperuna até então.
          A maioria dos professores eram jovens e de fora da cidade. Alguns do Rio de Janeiro, outros de Volta Redonda e de Campos dos Goitacazes. Eles diziam que valia a pena a viagem toda a semana devido aos altos salários que recebiam, maiores do que nos outros lugares que estavam acostumados a trabalhar. Eram professores muito qualificados, acostumados ao ritmo de pré-vestibular. Eram jovens e muito engraçados. Fazia muitas piadas durante as aulas ao mesmo tempo que conseguiam dar conta de toda a matéria.
          Aliás eles precisavam dar conta de explicar toda a matéria do Ensino Médio em dois anos. O terceiro ano era destinado a ser uma revisão de toda a matéria dada nesses dois primeiros anos. Por isso, nossos livros eram livros de volume único. Eram comprados no início do primeiro ano e os alunos usavam durante todo o Ensino Médio. Além dos livros, havia apostilas e listas de exercício que ficavam em uma pasta em uma papelaria que possuía xerox perto da escola. Todo o ensino era voltado para o vestibular. Tudo o que não fosse voltado para o vestibular, como a educação física, trabalhos e apresentações em grupo não importavam. Desde o primeiro ano, fomos pressionados quanto ao vestibular. As avaliações eram testes, provas e simulados, todos contendo apenas questões de vestibular. Entravam muitos alunos no início do primeiro ano, poucos sobreviviam até julho. Era grande o número de alunos que saía da escola no primeiro ano do Ensino Médio, o que explica o fato de haverem duas turmas de primeiro ano e apenas uma turma de segundo e uma de terceiro ano. Em Itaperuna não há universidades federais, apenas particulares, cujos vestibulares não apresentam nenhuma dificuldade. A maior parte dos alunos que estudavam no Único era jovens de classe média que possuíam a vontade e a possibilidade de sair de Itaperuna para estudar em uma Universidade Pública ou em uma universidade particular de alta qualidade em outra cidade.
          A partir do meu primeiro ano, eu realmente comecei a estudar muito. As aulas eram de manhã, a princípio, mas depois começaram a ter algumas aulas à tarde, principalmente no terceiro ano. Houve também Projeto UERJ aos sábados de 8h da manhã às 17h da tarde quando eu estava no 3º ano. Em casa, eu também estudava muito e fazia todos os exercícios. Embora eu tivesse decidido no meu primeiro ano que ia fazer vestibular para História e que depois da faculdade faria mestrado em Arqueologia, eu fazia todas as centenas de exercícios de física, química, matemática, etc. A maioria dos alunos estava também num ritmo grande de estudos. Eu era considerada boa aluna, mas não era mais “a melhor aluna” ou “a aluna exemplar” como era no Caminhar e eu fiquei muito feliz com isso. Além disso, os bons alunos eram elogiados pelos colegas e não mal vistos e chamados de “CDF” como acontecia quando eu estudava no Caminhar. Eu adorava os professores, já que eles eram, em sua maioria, muito animados, engraçados e atenciosos. Era uma escola em que eu gostava de estudar, mas onde eu só ia mesmo para estudar. Ela não era um local, para mim, de integração com outras pessoas da minha idade e isso, nessa época, não me incomodava.
          No primeiro ano, havia dois professores de história: o Vilmar e o Diógenes. O Vilmar ensinava História Geral e o Diógenes lecionava História do Brasil. O primeiro era mais velho e apresentava uma visão mais tradicional de história do que a visão que havia me sido passada pela Renata. Geralmente, eu discordava de tudo o que ele falava, não por achar que estava errado, mas por achá-lo conservador. O Diógenes era um professor novo, com cerca de 27 anos. Ele não era muito do tipo engraçado como os demais professores, embora de vez em quando ele também fizesse algumas piadas que todos achavam sem graça. Ele era um professor muito apaixonado pelo que fazia, falava de História com muita paixão e colocava muito sentimento nas aulas dele, na forma como falava e se expressava. Ele era preocupado com questões sociais e dava aulas muito boas. Eu era totalmente encantada por ele e pensava: “se um dia eu for metade do que ele é, eu já vou estar muito feliz”, pensamento do qual eu discordo atualmente.
          No segundo ano, o Diógenes passou a dar aula de História Geral e outro professor, o Renato, lecionava História do Brasil. O Renato era um ótimo professor, explicava a matéria muito bem e também não fazia o tipo “engraçado” como os demais professores. Ele era muito amigo da turma e fazia algumas observações críticas, afirmando não ser possível uma visão imparcial da história, já que até na escolha dos conteúdos a serem ensinados há uma subjetividade. Ele também dizia discordar do currículo, afirmando que a quantidade de matéria deveria ser reduzida e os conteúdos deveriam ser aprofundados.
          No terceiro ano, o Renato deixou de ser professor da escola para fazer mestrado. Todos concordaram que foi uma grande perda para a escola. No lugar dele entrou o professor Piccinini. Eu não me lembro do primeiro nome dele, apenas do sobrenome. O Diógenes voltou a dar aula de História do Brasil porque ele fez questão de ser professor de História Geral. Eu detestava ele porque era muito conservador, ensinava a história de um modo muito esquemática como se ela se resumisse a causas e conseqüências. Ele também se preocupava com nomes, datas e siglas, utilizando algumas poucas questões de vestibular, inclusive da UFF, que solicitaram esses elementos, como forma de legitimar sua preocupação, em oposição a professores como o Diógenes e o Renato que diziam que tais elementos não eram importantes. Ele também fazia críticas ao marxismo e ao comunismo, apresentando considerações deturpadas e equivocadas, o que me irritava bastante. Houve momentos de críticas pessoais indiretas ao Diógenes, que era meu professore preferido. Tudo isso fez com que eu não levasse muito em consideração o que esse professor dizia. Eu prestava atenção nas aulas, mas criticando quase tudo. Todas as minhas dúvidas, seja de História Geral ou do Brasil eu tirava com o Diógenes.
          Houve um momento, quando eu estava no segundo ano em que eu tive dúvidas sobre se eu realmente queria fazer faculdade de história e se eu realmente queria ser arqueóloga. Pensei em fazer veterinária por gostar de biologia e de animais ou medicina e depois me especializar em genética. Eu participei do projeto UERJ quando estava no segundo ano porque coloquei na minha cabeça que iria passar no vestibular no segundo ano, o que acabou de fato acontecendo. Mas eu não pude ingressar na universidade por ter 16 anos, o que fazia com que eu não pudesse fazer o supletivo. Desta forma, eu não tinha diploma de Ensino Médio para fazer minha inscrição. Eu e minha mãe tentamos várias saídas como me emancipar e entrar na justiça, mas nada resolveu a situação. Eu fiquei decepcionada na época, mas hoje eu acho que foi melhor assim. Eu não entrei na faculdade com 16 anos, mas 17 e, mesmo assim, acho que ainda estava um pouco imatura. Mas eu toquei no assunto do Projeto UERJ para explicar que foi em uma aula de biologia deste projeto que eu percebi que não deveria fazer veterinária ou medicina. O professor de biologia abriu um coelho para vermos como era a anatomia por dentro. No início, eu estava tranqüila, mas pouco tempo depois eu comecei a me sentir mal, minha pressão caiu, eu saí de sala e, pela primeira vez na vida, eu quase desmaiei. Por isso, essa minha dúvida durou cerca de 2 meses apenas. Eu não pensava em fazer faculdade de biologia porque não queria ser professora e porque eu gostava mais de história mesmo. No final do segundo ano, todos os vestibulares que fiz foram para História e no terceiro ano também. Passei em todas as provas e escolhi a UFF pela fama de ser “a melhor faculdade de História da América Latina”.


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memorial - Parte III

Ensino Fundamental

          Acredito que fui bem alfabetizada. No final da alfabetização, eu lia e escrevia bem para minha idade. A professora gritava muito às vezes e tinham uns dois alunos que não conseguiram acompanhar bem as aulas, inclusive uma aluna não passou de ano. Havia uma aluna que usava aparelho de audição e, por isso, também tinha dificuldades com a fala. Ela conseguiu se desenvolver bastante e se dava bem com as outras crianças. Lembro-me de brincar com ela também. Eu me lembro de uma garota mais velha, que tinha uns 10 anos e estava na nossa sala. Ela era muito quieta, sentava sempre na última carteira e nós tínhamos muito pouca ou nenhuma relação com ela. No final do ano nós produzimos um livro. Cada aluno escreveu uma redação sobre um tema e fez um desenho. A minha redação foi sobre o Natal e eu falei sobre Papai-Noel. Nela eu contei que ele já tinha existido mas não existe mais e que se tornou apenas uma lenda. Por isso hoje em dia algumas crianças não ganham mais presentes. Na formatura, eu fui a oradora da turma.
          Depois disso, a escola foi fechada e minha mãe reclama até hoje por não ter sido avisada. Os pais não foram comunicados e os alunos foram automaticamente matriculados no Centro Educacional Caminhar. A maioria dos meus colegas foram estudar no turno da manhã e eu continuei a estudar no turno da tarde. Não havia ninguém que eu conhecia na classe. A minha professora era a tia Letícia. Ela tinha 18 anos, todos os alunos gostavam dela e detestavam a professora da outra turma da primeira série, que era considerada mais bagunceira. A minha letra não era muito boa e eu me lembro de ela ter tido dificuldades para me ajudar nisso e chamou a tia Dodora, que era a diretora, para me ajudar. Houve uma época também em que eu estava esquecendo de fazer o dever de casa. Eu me lembro de que eu simplesmente esquecia mesmo, não era porque eu não quisesse fazer. Ela mandou eu conversar com a tia Magali, que era a outra diretora. Eu fiquei meio apreensiva por ir para a sala da direção. Mas ela foi bem legal comigo e perguntou porque eu não estava fazendo e eu disse que esquecia, que eu olhava na agenda e não sabia se já tinha feito ou não. Ela então me ensinou uma “técnica” que ela disse que tinha ensinado para o filho dela. Quando eu terminasse de fazer um exercício ou uma página do livro por exemplo eu deveria fazer um x em cima e, depois que tivesse acabado tudo, deveria fazer um “certinho”. Eu realmente passei a fazer isso sempre e não me esqueci mais de fazer o dever de casa. Continuei a fazer isso durante muito tempo, até a quinta ou sexta-série mais ou menos.
          Uma situação bastante marcante para mim foi uma vez em que a professora estava brigando com a turma por causa da leitura e depois disse: "É assim que um aluno de 1ª série deve ler. Leia, Luiza." Eu li, mas foi uma situação complicada para mim porque eu virei o centro das atenções e até hoje eu não gosto disso. Teve uma palavra que eu errei, que foi “pássaro” e eu li “passarinho” umas duas vezes. Eu acho que esse tipo de coisa me prejudicou bastante no Caminhar. Desde então eu me tornei “aluna exemplar”, seja por ser boa aluna, aplicada e tirar notas altas, como também por ser quieta e, portanto, comportada. Isso sempre me gerou uma cobrança muito grande, porque era como se as pessoas estivessem sempre esperando o melhor ou o “perfeito” de mim. Até a terceira série eu estava correspondendo a essas exigências que eu mesma acabava me colocando e, por mim, estava tudo bem. Eu conseguia me relacionar relativamente bem com as outras crianças e não tinha problemas com isso. 
          Na quarta-série, eu fui estudar no turno da manhã e, novamente, não havia quase ninguém que eu conhecia. Muitas crianças da minha turma saíram do colégio. Eu tive muita dificuldade de me integrar com as outras crianças, que eram bastante diferentes de mim. Aliás, eu não consegui me integrar e me fechei bastante. Comecei a sofrer muitas críticas por ser tão quieta, tão tímida, tão fechada. Ao mesmo tempo, sempre que eu fazia algo diferente disso, as pessoas se espantavam. No Ensino Fundamental isso piorou bastante para mim. Eu continuei sendo "excelente aluna", "exemplar" e não tinha nenhum problema de aprendizagem. Mas eu não estudava muito em casa, eu apenas fazia os deveres de casa e estudava um pouco para as provas. Mas os outros adolescentes me rotulavam de "CDF", dizendo que eu não fazia mais nada na minha vida além de estudar, que eu estudava o dia todo, sendo que isso não era verdade. Eu não saía com eles ou fazia outras coisas na hora do intervalo porque não conseguia me integrar e não por não ter tempo por estar estudando.
          Na terceira série foi quando eu tive meus primeiros contatos com a história. A disciplina era Estudos Sociais, mas me lembro de ter estudado sobre a história de Itaperuna, que foi algo que me interessou bastante. Até hoje eu me lembro de algumas coisas que aprendi sobre isso, até porque eu não voltei a estudar sobre o assunto posteriormente. Na quarta série, nós tínhamos um livro de História e Geografia. Eu me lembro de ter estudado História do Brasil, a partir de visão bem tradicional sobre alguns assuntos como uma abordagem sobre a Inconfidência Mineira que apresentava Tiradentes como um herói e que só foi morto por ser o mais pobre dentre os inconfidentes. Eu não me interessava muito por história até então. Quando me perguntavam qual era minha matéria preferida, eu dizia que era Ciências.
          Na quinta série, pela primeira vez, eu tive aula da disciplina escolar História. No Brasil, nesse ano, houve uma mudança nos currículos escolares e a História passou a ser uma disciplina obrigatória em todas as escolas, inclusive no primeiro segmento do Ensino Fundamental, onde a disciplina que eu havia tido era Estudos Sociais. Minha professora, a Renata, era uma ótima professora, com uma visão bastante crítica da história. Ela se preocupava em dar boas aulas e, depois de explicar a matéria, ela passava algumas questões para respondermos em casa. Na aula seguinte, ela pedia para que cada aluno lesse suas respostas de cada pergunta. Era um momento em que ela fazia as considerações sobre as respostas de cada um e aproveitava para discutir alguns tópicos. Ela conseguia ter “ordem” na turma em parte por dar boas aulas, mas também em grande parte por ter criado uma imagem de ser uma professora séria, grossa, que era ignorante às vezes. Ela também lia alguns textos do livro com a gente e discutia.
          A partir da minha quarta-série, o Caminhar fez uma parceria com o Pueri Domus, que é um sistema de ensino de São Paulo. A partir de então os livros de lá passaram a ser os livros adotados. Eram livros pequenos, que lançavam algumas questões, partindo da idéia de que o conhecimento seria construído em sala de aula pelos alunos e professores. Os livros de História possuíam muitas fontes primárias escritas e iconográficas. Ela discutia conosco algumas dessas fontes contidas no livro. Mas a realidade é que o livro não era muito usado. O conhecimento era construído mesmo a partir das anotações que ela fazia no quadro e do que ela explicava. Ela sempre dizia para que o anotássemos o que ela falava. Os exercícios que passava também eram muito relevantes, principalmente pela importância que ela dava a eles no momento da correção. Ela não conseguiu dar conta de explicar todo o conteúdo durante os quatro anos de Ensino Fundamental. Algumasmatérias, como feudalismo, ela retomou mais de uma vez e no final ela não conseguiu dar muitas aulas sobre o século XX. Muitos conteúdos importantes não foram explicados.
          Eu me interessei muito pela História desde a primeira aula que ela deu, na qual ela discutiu o que era história e para que estudamos história. Mas eu não sonhava em ser professora. Um dia ela deu uma aula sobre Ciências Auxiliares da História. Uma dessas ciências era a Arqueologia. Depois disso, nós aprofundamos um pouco mais sobre o assunto. Nós vimos onde estavam os principais sítios arqueológicos no Brasil, as diferentes teorias sobre a chegada do homem à América e fizemos um trabalho em grupo sobre os sambaquis. Desde então eu passei a querer ser Arqueóloga quando crescesse.

domingo, 13 de junho de 2010

Memorial - Parte II

Jardim de Infância
         
          Até os 3 anos de idade, eu não freqüentei creches ou escolas, ficando a maior parte do tempo com babás que eu chamava de “mãe”. Tenho algumas lembranças episódicas desse período, que incluem muitos choros e já alguma representação que eu fazia da escola. Lembro de uma vez em que eu estava debruçada sobre a varanda do apartamento, observando o pátio de uma escola, onde havia algumas carteiras. Agora me surgiu uma dúvida: não sei se estava realmente observando ou apenas imaginando. Mas isso não importa, o que importa é que eu desejava ir à escola e me imaginava sentada na carteira no colo da minha mãe. A escola não representava para mim, nesse momento, um local de separação da minha família, talvez por identificar na relação com minha mãe, a minha primeira relação de ensino-aprendizagem.
          Em 1993, meus pais retornaram para Itaperuna, onde suas famílias moravam. Foi nesse ano em que eu fui à escola pela primeira vez: Escolinha AME, em frente à minha casa. Entrei no Jardim II por já ter 3 para 4 anos de idade. Me lembro de chorar muito nas eventuais vezes em que minha mãe ia me levar. Ela trabalhava fora e, independente da escola, era um rio de lágrimas todas as vezes em que ela ia trabalhar, segundo relatos. Mas as minhas maiores lembranças são das poucas vezes em que ela podia me levar na escola e depois ia embora. Acredito que talvez porque isso ia de encontro às representações da escola que eu fazia antes, nas quais a minha mãe se fazia presente. Na maior parte das vezes era a babá que ia me levar. Ela ficava comigo algum tempo até que eu me distraísse e então ela ia embora. Mas eu não me importava muito quando me dava conta de que ela não estava mais lá. Não me lembro bem da professora, mas lembro que gostava muito dela.
          Na minha sala de aula havia duas mesas com várias cadeirinhas em volta. Uma delas era destinada ao Jardim I e a outra ao Jardim II. Havia também um espelho na sala e um colchão para caso alguma criança ficasse com sono. Eu estudava no turno da tarde, as aulas começavam com as crianças sentadas em círculo no chão, onde cantávamos algumas músicas. Eu me lembro bem dos meus colegas, especialmente por ter fotos e por ter tido contato com a maioria deles posteriormente, em diferentes momentos de minha vida. Itaperuna é uma cidade pequena do interior, na qual as pessoas costumam sempre se reencontrar.
          Eu já demonstrava ser uma criança mais reservada. Durante o recreio, na hora do lanche, na maior parte das vezes eu sentava em uma mesinha separada e, às vezes, eu ia para a mesa maior onde estavam todos quando alguma criança me chamava. Nesse ano, como em toda minha vida escolar, eu nunca fiz “bagunça” . Foram poucas as vezes em que fui chamada a atenção e essas vezes foram marcantes para mim.
          Lembro-me de um dia em que eu e outras crianças pegamos uma caixa de giz de cera e ficamos fingindo que estávamos fumando. A professora chegou e brigou conosco, dizendo que não podíamos fazer aquilo. Nós nos defendemos dizendo que era “de mentirinha”, mas, mesmo assim, ela continuou afirmando que não podia. Naquela época não havia uma campanha forte contra o cigarro como nos dias atuais. A mídia veiculava comerciais sedutores, vinculando o cigarro ao esporte e à qualidade de vida. Nós víamos nosso pais fumando, alguns tentando parar... Havia um conflito entre discursos a favor e contra o cigarro, mas de um modo ou de outro, ele se fazia presente na vida social de todos nós. Ficamos sem entender...
          No ano seguinte a escola mudou de local. Passou a ser em um lugar maior, onde havia um pátio grande com muitos pés de jambo e brinquedos. Enquanto a escola era nesse local, eu estudei lá no 3º período do jardim de infância e na alfabetização. Eu me lembro dos momentos do recreio onde eu brincava bastante nos brinquedos. Me lembro bem da minha professora do jardim III: a tia Mara. Eu também gostava dela. Nesse ano, a sala era pequena e sentávamos em carteiras que ficavam dispostas em círculo. Lembro de ter aprendido as primeiras palavras em inglês, como algumas cores, frutas e números. Isso foi algo que me interessou bastante e eu gostava de exibir para as outras pessoas que eu sabia isso. Na sala havia um garoto que tinha dificuldades com a fala e me lembro das outras crianças às vezes zombarem dele, principalmente em alguma situação de briga. Havia também uma garota que aliás também se chamava Luiza e sempre ficava se masturbando. A gente não entendia o que era, nem porque ela fazia isso. Mas ninguém falava nada, não zombava e nem a professora falava nada. Até que um dia a professora brigou, falou que aquilo era muito feio e que era para nós não fazermos igual.
          Uma situação que me lembro bem, foi no final do ano em que nós estávamos fazendo algumas coisas para o natal. Ela chamou eu e a outra Luiza para a ajudarmos a fazer colagens em um cartaz. Depois ela foi ensinar a gente a fazer uma caixinha de presente. Ela foi ensinando passo-a-passo, mas eu não estava conseguindo acompanhar e me perdi. Eu disse várias vezes e ela não me deu atenção, dizendo: dessa parte já passou. E continuou ensinando as outras crianças. Acabou que eu não fiz a caixinha. No dia da comemoração eu lembro da minha mãe ter me perguntado sobre a minha e eu não respondi nada.

sábado, 12 de junho de 2010

Memorial - Parte I

Contextualizando: Faço faculdade de História na UFF. Estou no 7º período, cursando uma disciplina chamada Pesquisa e Prática de Ensino I, ministrada pelo professor Everardo Paiva. Ele pediu como primeira atividade que fizéssemos um memorial com ênfase em nossa trajetória escolar e profissional. Apesar de ser um trabalho feito para a faculdade, meu memorial ficou com um tom muito mais literário do que acadêmico. Como se trata de um texto longo, vou postar um trecho a cada dia.


Memorial - Parte I
(Escrito em 22/04/2010)


1989


          1989. “Ano que abalou o mundo”. Queda do muro de Berlim. O fim da URSS se anunciava. Sonhos fragmentados, alegrias, desilusões. Era o fim de uma revolução que não foi. O que fazer agora? Continuar a luta? Retornar ao passado e se afogar nele? Aceitar o sistema que passaria a dominar?
          No Brasil, mudanças políticas também ocorriam. A ditadura havia chegado ao fim há pouco tempo. A democracia tentava se restabelecer. Rupturas, desilusões, esperanças.
          Em meio a toda essa intensidade de acontecimentos eu vim ao mundo. Em Niterói, às 9h35 da manhã do dia errado. Era para ter nascido dias antes porque o cordão umbilical já estava enrolado no meu pescoço. Era para ter nascido dias depois porque minha mãe ainda não havia entrado em trabalho de parto. Era para ter nascido anos antes quando minha mãe era mais jovem, o casamento estava consolidado e o meu irmão teria com quem brincar. Agora ele já havia sido filho único por 11 anos. Ou, se não fosse por um descuido, eu não teria nascido. Mas eu não estou aqui para fazer história do “se” ou história do que não foi. Isso é metodologicamente equivocado.
          Não há fotografias do parto, nem da gravidez. Registros que não foram feitos. Onde estão as fontes? Enquanto reviro Arquivos em busca de documentos sobre o trabalho indígena no século XIX, me dou conta de que para entender meu passado pessoal, elas me faltam. Preciso recorrer à História oral, à cultura material, novas fontes, novas perspectivas. Muitas coisas para preencher o que me falta e mesmo assim continua tudo muito fragmentando.
          O resgate ao passado também se fez no nome. Meu pai queria que eu me chamasse Sebastiana por ser o nome de sua avó, que já havia falecido. O acordo feito era de que ele escolheria o nome caso fosse menina. Mas diante de tal escolha, o acordo teve de ser desfeito. Afinal, Luiza é esteticamente e, de acordo com os padrões da época, muito mais bonito e apropriado. Além disso, homenageia meu avô Luiz, pai da minha mãe. Luiza com Z e sem acento. Gramaticalmente errado conscientemente para ficar marcada a referência ao meu avô que, por sua vez, se chamava Luiz em referência ao seu pai de mesmo nome. Os sujeitos históricos às vezes escolhem conscientemente perpetuar certos erros através das gerações em nome da conservação de uma tradição, de um passado. Qual é o peso do passado?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Apresentação

Tenho muitos textos em prosa e em verso, perdidos entre tantos outros papéis, rascunhados em velhas agendas, em meio a outros arquivos no computador. Alguns ficaram guardados apenas na memória, outros se perderam para sempre. Já pensei muito sobre reuni-los em um blog, porém são textos que dizem muito de mim, que me revelam. Eu sempre me perguntava: Será que eu quero que as pessoas tenham acesso a esses textos? Será que eu quero que elas tenham acesso a mim? Agora decidi que quero. Estou abrindo uma janela. Seja bem-vindo ao meu Mar de Inquietações.