domingo, 13 de junho de 2010

Memorial - Parte II

Jardim de Infância
         
          Até os 3 anos de idade, eu não freqüentei creches ou escolas, ficando a maior parte do tempo com babás que eu chamava de “mãe”. Tenho algumas lembranças episódicas desse período, que incluem muitos choros e já alguma representação que eu fazia da escola. Lembro de uma vez em que eu estava debruçada sobre a varanda do apartamento, observando o pátio de uma escola, onde havia algumas carteiras. Agora me surgiu uma dúvida: não sei se estava realmente observando ou apenas imaginando. Mas isso não importa, o que importa é que eu desejava ir à escola e me imaginava sentada na carteira no colo da minha mãe. A escola não representava para mim, nesse momento, um local de separação da minha família, talvez por identificar na relação com minha mãe, a minha primeira relação de ensino-aprendizagem.
          Em 1993, meus pais retornaram para Itaperuna, onde suas famílias moravam. Foi nesse ano em que eu fui à escola pela primeira vez: Escolinha AME, em frente à minha casa. Entrei no Jardim II por já ter 3 para 4 anos de idade. Me lembro de chorar muito nas eventuais vezes em que minha mãe ia me levar. Ela trabalhava fora e, independente da escola, era um rio de lágrimas todas as vezes em que ela ia trabalhar, segundo relatos. Mas as minhas maiores lembranças são das poucas vezes em que ela podia me levar na escola e depois ia embora. Acredito que talvez porque isso ia de encontro às representações da escola que eu fazia antes, nas quais a minha mãe se fazia presente. Na maior parte das vezes era a babá que ia me levar. Ela ficava comigo algum tempo até que eu me distraísse e então ela ia embora. Mas eu não me importava muito quando me dava conta de que ela não estava mais lá. Não me lembro bem da professora, mas lembro que gostava muito dela.
          Na minha sala de aula havia duas mesas com várias cadeirinhas em volta. Uma delas era destinada ao Jardim I e a outra ao Jardim II. Havia também um espelho na sala e um colchão para caso alguma criança ficasse com sono. Eu estudava no turno da tarde, as aulas começavam com as crianças sentadas em círculo no chão, onde cantávamos algumas músicas. Eu me lembro bem dos meus colegas, especialmente por ter fotos e por ter tido contato com a maioria deles posteriormente, em diferentes momentos de minha vida. Itaperuna é uma cidade pequena do interior, na qual as pessoas costumam sempre se reencontrar.
          Eu já demonstrava ser uma criança mais reservada. Durante o recreio, na hora do lanche, na maior parte das vezes eu sentava em uma mesinha separada e, às vezes, eu ia para a mesa maior onde estavam todos quando alguma criança me chamava. Nesse ano, como em toda minha vida escolar, eu nunca fiz “bagunça” . Foram poucas as vezes em que fui chamada a atenção e essas vezes foram marcantes para mim.
          Lembro-me de um dia em que eu e outras crianças pegamos uma caixa de giz de cera e ficamos fingindo que estávamos fumando. A professora chegou e brigou conosco, dizendo que não podíamos fazer aquilo. Nós nos defendemos dizendo que era “de mentirinha”, mas, mesmo assim, ela continuou afirmando que não podia. Naquela época não havia uma campanha forte contra o cigarro como nos dias atuais. A mídia veiculava comerciais sedutores, vinculando o cigarro ao esporte e à qualidade de vida. Nós víamos nosso pais fumando, alguns tentando parar... Havia um conflito entre discursos a favor e contra o cigarro, mas de um modo ou de outro, ele se fazia presente na vida social de todos nós. Ficamos sem entender...
          No ano seguinte a escola mudou de local. Passou a ser em um lugar maior, onde havia um pátio grande com muitos pés de jambo e brinquedos. Enquanto a escola era nesse local, eu estudei lá no 3º período do jardim de infância e na alfabetização. Eu me lembro dos momentos do recreio onde eu brincava bastante nos brinquedos. Me lembro bem da minha professora do jardim III: a tia Mara. Eu também gostava dela. Nesse ano, a sala era pequena e sentávamos em carteiras que ficavam dispostas em círculo. Lembro de ter aprendido as primeiras palavras em inglês, como algumas cores, frutas e números. Isso foi algo que me interessou bastante e eu gostava de exibir para as outras pessoas que eu sabia isso. Na sala havia um garoto que tinha dificuldades com a fala e me lembro das outras crianças às vezes zombarem dele, principalmente em alguma situação de briga. Havia também uma garota que aliás também se chamava Luiza e sempre ficava se masturbando. A gente não entendia o que era, nem porque ela fazia isso. Mas ninguém falava nada, não zombava e nem a professora falava nada. Até que um dia a professora brigou, falou que aquilo era muito feio e que era para nós não fazermos igual.
          Uma situação que me lembro bem, foi no final do ano em que nós estávamos fazendo algumas coisas para o natal. Ela chamou eu e a outra Luiza para a ajudarmos a fazer colagens em um cartaz. Depois ela foi ensinar a gente a fazer uma caixinha de presente. Ela foi ensinando passo-a-passo, mas eu não estava conseguindo acompanhar e me perdi. Eu disse várias vezes e ela não me deu atenção, dizendo: dessa parte já passou. E continuou ensinando as outras crianças. Acabou que eu não fiz a caixinha. No dia da comemoração eu lembro da minha mãe ter me perguntado sobre a minha e eu não respondi nada.

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