quarta-feira, 16 de junho de 2010

Memorial - Parte Final

Universidade         

          Eu via a faculdade de História e a mudança para Niterói como uma oportunidade para que eu pudesse me reinventar, já que não estava satisfeita com a imagem que as pessoas tinham de mim em Itaperuna de ser uma pessoa metida, quieta, tímida e que não fazia muitas coisas na vida além de estudar. Mas as coisas não foram tão fáceis como eu imaginava, eu acho que não consegui mudar muito a minha imagem no meu ambiente de estudo. Eu continuei a passar um pouco essa imagem e não consegui me integrar com a turma com a qual eu entrei.
          No primeiro período, muitas pessoas se mostraram decepcionadas com faculdade por não conseguirem ver uma continuidade entre a História aprendida na escola e a História que estávamos estudando na faculdade. Alguns desistiram do curso. Além disso, eu senti uma dificuldade no primeiro ano de faculdade por me sentir ainda imatura para um ambiente no qual todo mundo era tratado como adulto e no qual as pessoas já estavam muito preocupadas com suas vidas profissionais. Tive dificuldades também em saber como estudar, já que o método de estudo que eu havia criado para mim no Ensino Médio não servia mais. Havia um abismo entre a leitura de livros didáticos e as leituras de Karl Marx, Marc Bloch, entre outros. Eu ficava preocupada por não conseguir dar conta de absorver todos os detalhes do texto, tanto que meus fichamentos eram quase do mesmo tamanho dos textos. Tudo eu julgava ser importante. Além disso eu não conseguia me posicionar criticamente. Eu concordava com tudo o que diferentes autores diziam, já que tudo tinha uma coerência. Mas eu sabia que havia algo de errado nisso.
          A partir do terceiro período eu comecei a assimilar melhor certas coisas. Eu entendi que nunca vou dar conta de todos os conteúdos historiográficos e consegui me posicionar melhor criticamente. Ter feito duas disciplinas com a professora Martha nesse período foi fundamental para mim, pois foi no curso dela que tive contato com alguns textos como do Thompson, que deram respostas para muitos dos meus questionamentos e que me levaram a crer que eu realmente gostaria de trabalhar com cultura. Além disso, eu passei a me posicionar teoricamente, ao me identificar com determinadas leituras, principalmente do Thompson. Também fiz uma disciplina optativa chamada “Sociologia de Karl Marx”, que me ajudou a pensar e questionar muitos elementos teóricos. Foi no terceiro período também que a professora Fernanda, que havia sido minha professora de História do Brasil I, me ofereceu uma bolsa de iniciação científica. Embora eu houvesse entrado na faculdade pensando em me especializar em História Antiga para que isso depois fosse um caminho para mim na arqueologia, eu não havia gostado muito do curso de História Antiga e havia adorado o curso de História do Brasil. Eu aceitei a bolsa e foi aí que eu decidi a longo prazo o que fazer.
          Penso em trabalhar com História Indígena no Brasil Colonial, com a parte de cultura e, futuramente, trabalhar com Arqueologia Brasileira, mais especificamente com a temática indígena durante o período colonial. Quando a bolsa com a Fernanda terminou, ela me perguntou com o que eu gostaria de trabalhar e eu disse que era com história indígena. Então, ela me indicou para a professora Regina, que trabalha com essa temática. Ela já me conhecia por eu ter feito uma disciplina com ela e por ter pedido ajuda a ela para realizar meu projeto de Metec (Métodos e Técnicas de Pesquisa em História) sobre os tupinambás no século XVI. Ela me deu a bolsa e, atualmente, eu sou bolsista e orientanda dela.
          Eu não sei exatamente o porquê, mas atualmente estou desanimada com a faculdade e não tenho rendido tanto quanto antes. Estou me sentindo pressionada porque ela está chegando ao fim. Eu preciso fazer monografia, tem a bolsa de iniciação científica, tenho aulas de francês, faço estágio não remunerado uma vez por semana no laboratório de arqueologia do Museu Nacional, estou começando a fazer estágio uma vez por semana em uma escola, faço terapia individual e terapia de grupo. Aos sábados faço aulas de teatro, que é uma nova paixão que eu descobri há dois anos e meio atrás. Minha orientadora não está muito feliz comigo, ela não entende o que está acontecendo com a “a aluna excelente e responsável”, segundo suas próprias palavras, que ela teve. Ninguém entende, nem eu entendo.
          Ainda não sei se quero ser professora, não sei se vou conseguir entrar direto no mestrado porque ainda vou precisar estudar muito e fazer um projeto para entrar em uma outra área, com a qual eu ainda não tenho tanto contato. Discordo do sistema capitalista e ao mesmo tempo não faço nada para mudá-lo. Estou tão imersa no sistema quanto qualquer outra pessoa. Não sei como resistir e sobreviver dentro dele ao mesmo tempo, se é que isso é possível. Além de tudo isso, eu ainda preciso comer, dormir, me divertir e lidar com um turbilhão de coisas dentro de mim que me acompanham desde que eu nasci. Afinal ter febre causada por motivos emocionais aos três meses de idade é só pra quem nasceu às 9:35 da manhã do dia errado em “um ano que abalou o mundo”.

3 comentários:

  1. Ha. Você é canceriana. Certo? xD

    Engraçado é como a padronização do ensino gera uma certa padronização de experiências. Apesar de eu ter tido problemas em meu ensino médio que mal foram citados por aí, e ter de certo um ensino fundamental bem mais... auto-elogiado.

    Parabéns, seu documento histórico parece estar bem fundamentado... Acho que é por que a fonte está dentro de você. xD

    .Invictus

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  2. A partir de agora os textos serão mais curtos né? =X
    HAauhauhaU
    Olha aquela sugestão de tema que lhe dei hein ^^

    HAauhau

    Parabéns, o blog ta bonito demais. Layout, escrita e conteúdo...

    Beijos

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  3. Adoro ler e em todos os posts fiquei com aquela sensação de quero mais. A leitura foi ótima. Espero que faça aquilo que mais goste e seja feliz. Acho que deveria escrever livros na sua área, tipo unir o útil ao agradável (vc me passa a idéia de alguém que gosta de escrever e sabe fazê-lo). Felicidades!

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