sábado, 12 de junho de 2010

Memorial - Parte I

Contextualizando: Faço faculdade de História na UFF. Estou no 7º período, cursando uma disciplina chamada Pesquisa e Prática de Ensino I, ministrada pelo professor Everardo Paiva. Ele pediu como primeira atividade que fizéssemos um memorial com ênfase em nossa trajetória escolar e profissional. Apesar de ser um trabalho feito para a faculdade, meu memorial ficou com um tom muito mais literário do que acadêmico. Como se trata de um texto longo, vou postar um trecho a cada dia.


Memorial - Parte I
(Escrito em 22/04/2010)


1989


          1989. “Ano que abalou o mundo”. Queda do muro de Berlim. O fim da URSS se anunciava. Sonhos fragmentados, alegrias, desilusões. Era o fim de uma revolução que não foi. O que fazer agora? Continuar a luta? Retornar ao passado e se afogar nele? Aceitar o sistema que passaria a dominar?
          No Brasil, mudanças políticas também ocorriam. A ditadura havia chegado ao fim há pouco tempo. A democracia tentava se restabelecer. Rupturas, desilusões, esperanças.
          Em meio a toda essa intensidade de acontecimentos eu vim ao mundo. Em Niterói, às 9h35 da manhã do dia errado. Era para ter nascido dias antes porque o cordão umbilical já estava enrolado no meu pescoço. Era para ter nascido dias depois porque minha mãe ainda não havia entrado em trabalho de parto. Era para ter nascido anos antes quando minha mãe era mais jovem, o casamento estava consolidado e o meu irmão teria com quem brincar. Agora ele já havia sido filho único por 11 anos. Ou, se não fosse por um descuido, eu não teria nascido. Mas eu não estou aqui para fazer história do “se” ou história do que não foi. Isso é metodologicamente equivocado.
          Não há fotografias do parto, nem da gravidez. Registros que não foram feitos. Onde estão as fontes? Enquanto reviro Arquivos em busca de documentos sobre o trabalho indígena no século XIX, me dou conta de que para entender meu passado pessoal, elas me faltam. Preciso recorrer à História oral, à cultura material, novas fontes, novas perspectivas. Muitas coisas para preencher o que me falta e mesmo assim continua tudo muito fragmentando.
          O resgate ao passado também se fez no nome. Meu pai queria que eu me chamasse Sebastiana por ser o nome de sua avó, que já havia falecido. O acordo feito era de que ele escolheria o nome caso fosse menina. Mas diante de tal escolha, o acordo teve de ser desfeito. Afinal, Luiza é esteticamente e, de acordo com os padrões da época, muito mais bonito e apropriado. Além disso, homenageia meu avô Luiz, pai da minha mãe. Luiza com Z e sem acento. Gramaticalmente errado conscientemente para ficar marcada a referência ao meu avô que, por sua vez, se chamava Luiz em referência ao seu pai de mesmo nome. Os sujeitos históricos às vezes escolhem conscientemente perpetuar certos erros através das gerações em nome da conservação de uma tradição, de um passado. Qual é o peso do passado?

4 comentários:

  1. Interessantíssima sua ideia.
    Gostei do Blog. Acompanha-lo-ei!
    Fiquei curioso!

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  2. O texto eu já conheço e ficou muito bom e emocionante.
    Achei ótima a contextualização, simples e objetiva.

    (vou contar o final =X) hehe

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  3. tb acompanhar-lo-ei!!!!!!!!!!!!!!!!!
    puuo q isso heim: " Os sujeitos históricos às vezes escolhem conscientemente perpetuar certos erros através das gerações em nome da conservação de uma tradição, de um passado. Qual é o peso do passado?"
    amei issoo
    pooo qria terdom rpa escrita..
    =~~~~~~
    hj minha orientadora acabou cmg.. ( q bomq ela eh sutil e simpatica! hauuhauh)

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  4. Custava ter nascido na epoca certa?
    Sebastiana? Nossa, que bom que seu avo se chamava Luiz hein
    gosto de Luiza, em especial com Z e sem acento!
    que bom que seu avo se chamava Luiz, que bom!!

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